Sou um homem museu. Senti isso hoje, e não é uma coisa tão boa. Coloco meu passado bem em cima do meu presente. É como sentir uma ferida bem aberta. E você pode ver todas as minhas peças em exibição, e entender que todas são sobre coisas que já aconteceram e que me afetam muito. Sei que também tem pessoas museus por ai (um abraço). Fico imaginando como deve ser difícil.
Ouvir uma música e lembrar da pessoa.
Estar em um lugar e lembrar de um momento que viveu ali.
Entender que você não tem mais aquilo.
Estar em um lugar e entender que coisas pesadas aconteceram ali. Mas a gente tem que entender, né? É outra situação, é outro rio. Sinto que sei que é um rio diferente, outras águas, mas que no dia que as coisas aconteceram uma enorme pedra ficou no meio do rio. E aquela pedra, essa bendita pedra, está sendo molhada pelas novas águas. E o que é complicado é que só resta esperar... Um dia não vai doer tanto, e você não vai ter nem percebido que parou de doer. Vão ter dias em que a cicatriz vai se abrir, e vai escorrer lembranças e dor dela, mas já passou.
Hoje fui me divertir, e me diverti. Então veio aquela música, naquele lugar, e fiquei afetado. Mas poxa, é o meu museu. Meu museu tem cheiro de livro antigo, e eu sei que tiro coisas boas dele. Você tem que entender o passado se quiser escrever o futuro. É que nem fazer arte, você precisa de meios para envolver as pessoas. O passado é o meio que nos permite fazer arte com o futuro, entende?
De um pesadelo me vem um conto.
De uma saudade me vem um poema.
De um sorriso que não tenho mais me vem versos.
E está tudo não bem, mas ok.
A questão é que uma hora o museu abre. E quando abrir você vai fazer um tour por ele. Contar as histórias, explicar as dores antigas e os sorrisos que aconteceram. Vai ser a sua história sendo contada. Nesse momento vai ser um museu não só de antiguidades, mas de arte. E então, vai ser extraordinário.
De um lado do universo ao outro.
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