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Potter day e sobre reencontrar a magia.


7 anos atrás em uma casa no sul da cidade eu, com apenas 12 anos, caminhei em direção ao meu amigo. Nós paramos um em frente ao outro com um espaço de alguns centímetros. Erguemos as nossas varinhas (que na época eram apenas pedaços de madeira que encontramos na rua) e em seguida as abaixamos. Nos curvamos e recuamos. Contamos até três.

Um...

Dois...

Três...

- Expelliarmus! - Gritei.

- Rictusempra! - Meu amigo gritou do outro lado.

- O Victor falou primeiro - disse meu outro amigo, que estava observando o duelo - ele venceu. 

Sorri e olhei para a minha varinha. Nós tínhamos doze anos e eramos Bruxos. Tudo graças a Harry Potter. 


***

 Sete anos depois eu preparava meu equipamento fotográfico e pegava um ônibus em direção ao centro. Iria fotografar o Potter day. Meu gosto por Harry Potter tinha se transformado de alguma forma. Não encontrava mais um pomo de ouro na minha estante ou um brinquedo de um trasgo. Não falava 24h sobre ou discutia sobre feitiços com meus amigos. Mas uma hora ou outra você iria encontrar o brasão da Corvinal ou de Hogwarts em uma das blusas que uso ou em alguma conversa surgiria o assunto e eu iria me dispor a conversar sobre Harry Potter por horas. Foi um amor que cresceu comigo. Cresci lendo todos os livros repetidas vezes e conversando sobre em fóruns da internet. Ali, dentro de mim... Ainda tinha um bruxo. Acho que existem dentro de nós chamas que diminuem de tamanho esperando apenas a chance certa para crescerem de novo e brilharem. 

Esta situação foi uma delas.

Ao chegar no evento sorri com a simplicidade que deixava claro um esforço dos organizadores e cuidado enorme. Ao lado do Casarão placas indicando o caminho para lugares misteriosos e mágicos, lojas com itens da série e um Caldeirão furado improvisado que vendia de cerveja amanteigada (não é bebida alcoólica)  até cachorros quentes. Puxei a câmera e comecei a tirar fotos avulsas, mas no fundo eu sabia o que meus olhos estavam procurando. Pessoas da minha casa. Pessoas da Corvinal. Quando os encontrei fiquei de longe observando como a maioria eram novos e como todos estavam empenhados nas competições que o evento proporcionava. O que mais me deixou admirado foi o sentimento de irmandade que surgiu. Pessoas completamente desconhecidas estavam se tratando como irmãos de casa. Parecia uma grande equipe de jogadores e torcedores de futebol, mas sem a parte agressiva. Esse espirito surgiu em todas as casas. 

Foi incrivelmente divertido ver todas as pessoas se divertindo juntas. Tempos atrás eu era o guri que se orgulhava por ter sido o primeiro a entrar na sessão de estreia de Relíquias da morte e o mesmo guri que fazia varinhas para vender na escola. Fui o guri que chegou a sofrer por bullying por gostar de HP, mas ali estava um grupo de jovens podendo se divertir com os seus gostos sem ninguém para julgar. Eu amei aquilo. De verdade. Amei torcer no quadribol e ver as pessoas torcendo. Amei ver o clube de duelos e conseguir me projetar ali. 

E, sabe, por alguns segundos... Existiu magia. 

Magia é uma coisa charmosa, entendem? Ela se esconde nos lugares mais estranhos. Em um sorriso, em abraços, atrás de um baú, em uma floresta e em um evento no Casarão. Foi lindo ver magia. 

Espero que o evento tenha outras edições e que outras pessoas possam se divertir como me diverti. Não tinham apenas adolescentes e crianças lá, mas também adultos e idosos. Isso foi lindo. Uma sugestão se me permitissem seria organizar eventos menores focado no Quadribol e no clube de duelos, iria amar. 

Agradeço aos organizadores do Potter day e a todos os bruxos que foram. Espero que encontrem magia por ai, e quando encontrarem... Vai ser extraordinário. 

Os organizadores.

Quadribol

Clube de duelos

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