Procuro solitude, quem encontrar me avise. Desde criança desenvolvi um grande apreço por estar só, e sempre procurei entender isso. Acredito eu que existem dois tipos principais de solidão: a imposta e a voluntária. Na solidão voluntária é de sua escolha o isolamento a reclusão, e nesse momento você se sente bem. Enquanto isso a solidão imposta é quando o universo simplesmente fala: Bom, acho que está na hora de deixarmos ele sozinho. Os amigos não vão poder sair e o ver, as garotas estarão distantes, os animais vão se esquivar dele na rua e os pais passarão o dia no trabalho. Então você entra nesse abismo existencial de onde surge uma espiral de sentimentos ruins; a tristeza, a ansiedade, a angústia (alô fenomenologia) e nesse ponto você tem que lidar que naquele momento o mundo vai te deixar desconecto de tudo e de todos.
Um problema nessa questão, acredito eu, é quando essa maravilha que é nossa cabeça decide confundir os dois. Quando você está cercado de amigos e por algum motivo te bate aquele sentimento de solidão. Sozinho, você pensa, eu estou sozinho, eu sei que eles estão aqui, mas eles estão verdadeiramente aqui? Eles me querem aqui? E isso segue, meu deus, a gente sabe que segue.
Meu amor por solitude começou quando o universo decidiu que eu passaria tempos grandes sozinho. Quando criança meus pais e minha irmã passavam bastante tempo fora e acabei desenvolvendo um apreço por ficar só. Na escola eu não tinha tantos amigos e nem no bairro, então meus dias giravam em torno de comer, explorar, ser, ler e consumir. E nossa! Era isso, acabei me sentindo incrivelmente bem. Eu, uma criança que adorava ciência, passava a tarde observando os insetos, estudando sobre as estrelas e consumindo livros de terror. Quando optava por não fazer isso pegava uma filmadora e fazia stop motions. A solitude me fez encontrar arte, e quando encontrei arte, me encontrei.
Estar sozinho é sobre olhar para si mesmo. É entender os barulhos que você faz, é saber que tem momentos em que lágrimas vão vir do nada, assim como sorrisos. E que em seus momentos de solitude você vai conhecer pessoas, e elas vão passar. É viajar de um estado para o outro ouvindo Eddie Vedder e observando a estrada pela janela de um ônibus. E quando chegar a noite você só vai ver o escuro, e então do nada uma pequena casinha no meio do nada vai estar ali sendo iluminada por um poste. E você vai se perguntar que tipo de pessoa vive naquela estrela, e vai escrever sobre isso.
Estar sozinho, meus amores, é ir ao cinema sem ninguém e escolher cuidadosamente após esquadrinhar com o olhar a melhor cadeira da sala e ir ver o filme acompanhado de pipoca e chocolate. E odiar o filme quando ele for ruim, e amar quando for ótimo! Depois escrever sobre isso. Estar sozinho é criticar, inclusive a si mesmo. Mas não uma critica de apontar dedos, uma critica grega. Estou falando de levantar reflexões sobre algo, e sobre si.
Eu realmente quero isso?
Eu amo ela?
Quero esse livro?
Isso é da minha vontade?
Se eu gosto disso é porque tenho uma referência para comparar, como construí essa referência?
E teve esse dia, em que entrei no meu quarto de hotel em Epitaciolândia (eu o chamava de Overlook), me deitei na cama, li por uma hora, escrevi por duas horas em uma escrivania qualquer e depois caminhei até a Bolívia. Nesse dia eu tive paz. Tive essa coisinha que busco sempre, que me afasta a ansiedade, que me dá gosto. E que me faz lembrar que: hey, eu me amo. Por isso. Por favor, se você a vir por ai diga que estou com saudades. Diga que estou procurando ela sempre que posso e que mando cartas às vezes. Diga que espalhei cartazes pela cidade, e quando você os ver, lembre-se:
Procura-se solitude.
Meu quartinho em Epitaciolândia. P.s: ouçam Society do Eddie Vedder, please <3 |
Maravilhoso ♡
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