Quero contar para vocês. Contar uma história, uma história diferente das outras. Nesse ponto você vai imaginar as logos de quem patrocinou o filme aparecendo. Depois vem o aviso que não é para colocar o pé na poltrona da frente. Esse texto é um zoom. Quero mostrar os pixels de alguém. Já coloquei essa pessoa no palco. Mas ela tinha outro nome, outro ser. Ela me perguntou várias vezes:
"Como tu me vê? Nos mínimos detalhes"
Esse texto é sobre a Clarisse, nos mínimos detalhes.
Começa com você olhando para ela. A primeira coisa que enxerga é o cabelo, ele chama atenção. Mas eu não sei exatamente qual vai ser o cabelo quando você olhar. Depende do estado de humor dela, da mudança que ela tá passando. Pode ser curto, um pouco maior ou moreno. Mas eu me lembro dele laranja, agora você observa eles sendo alaranjados e se escurecendo até a raiz. Nesse ponto nós vemos as bochechas. As bochechas que tem aquelas pequenas crateras que você sabe que tem dias que ela odeia. Mas você acha fofo, uma lua, é um pequeno charme. \E por um segundo você é uma criança bobona querendo apertar aquelas bochechas. Então você olha a postura corporal dela. Depende do dia. Mas normalmente ela vai estar um pouco encurvada e o ombro dela vai estar mais a direita mostrando que ela não quer o espaço pessoal invadido. Suas pernas vão estar cruzadas, ou o calcanhar sendo tocado pelo outro pé. Você pensa que ela procura a si mesma até em como o corpo se comunica. Então você faz uma piada. Não é uma piada elaborada, talvez com um humor pouco sujo. Mas uma piada que você sabe que ela vai rir. E então ela sorri, mostra os dentes, e eles são bem brancos. Você adora o sorriso dela. É sempre um pequeno movimento, sabe? Primeiro o ombro que estava para a direita se recua um pouco e ela mostra o peitoral. Você lê que ela permite que você entre no seu espaço pessoal, que abrace ela. É aquele charme do exato momento em que a pessoa perde a compostura.
Então você a abraça.
E beija e testa dela.
Diz que a ama.
Cortamos para outra cena. Ela te liga chorando, está mal. Você só quer pegar um táxi para ir até ela, mas não pode. Ela diz que ninguém a ama, que ninguém permanece, que ninguém a suporta. E você tem vontade de dizer:
Ei, eu ainda estou aqui.
Ei, vamos tomar um sorvete.
Ei, eu sei os filmes que você gosta.
Ei, toma aqui um abraço.
Ei, se quiser posso ficar só em silêncio. Mas estou aqui.
Você pensa que ama ela. Em como a relação de vocês é intima. Se lembra do dia em que ela dormiu na sua casa e você percebeu que ela é o tipo de pessoa que você gosta pelo mistério. Porque Clarisse é um mistério, entendam.
Uma parada tão confusa que ela nem mesmo conseguiu desvendar ainda, e isso desperta tantas crises. Mas você gosta do mistério, não é? É um escritor de terror. Adora descobrir ela, analisar. Nesse ponto você sempre se lembra de como foi a primeira vez que entrou no quarto dela. Como parecia caótico. Coisas grudadas nas paredes, desenhos, e livros aleatórios. Foi quando percebeu que tinha um padrão. A Clarisse é assim. Um caos ordeiro. Você consegue encontrar ela no meio da muvuca. E ela te ama, você sente que ama. Sente que ama quando ela fala que quer chutar a bunda de quem te machucou. Ama descobrir ela se surpreendendo.
Acho que já foi zoom o bastante, não foi? Eu espero que ela esteja chorando agora. Porque that's my job aqui, meu irmão.
Nanne, Clarisse, amarela.... Eu te amo.
Hey, eu to aqui.
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