Estive sumido, sorry. Queria contar sobre umas coisas que aprendi. Passei o ano novo em um ônibus partindo para uma jornada de três dias em direção ao Paraná. E, velho, algumas coisas são como andar de ônibus.
Vamos falar sobre isso?
Em uma viagem longa acontecem algumas coisas e quando seu destino é a parada final você acaba notando pequenos detalhes que te chamam a atenção.Quando seu objetivo é o final de uma caminhada longa você vê várias pessoas partindo. No ônibus muitas pessoas sentaram ao meu lado e o destino dessas pessoas eram o final para elas, mas para mim só fazia parte do trajeto.
Pessoas sobem.
Pessoas descem.
Algumas não falam com você, outras contam histórias de vida.
Estou falando, claro, do mineiro que fugiu para cuba - "As terras de Pablo", disse - e conheceu uma francesa com quem viveu um romance frustado regado a cocaína e noites que ele nunca mais iria se lembrar. Esse mineiro que depois de dezoito anos depois (e vinte e cinco músicas compostas em espanhol segundo ele) decidiu voltar para casa. Estou falando, claro, do guri que subiu em Cuiabá com uma blusa do Batman (o símbolo já estava se apagando, era uma blusa antiga) que estava indo em direção ao país vizinho atrás de "uma viagem espiritual que me leve longe daqui, irmão". Estou falando do senhor que sentou ao meu lado e falou sobre relevos e sobre as curvas da terra como quem fala das curvas de alguém que ama. Dessas pessoas que estou falando.
E essas pessoas descem.
Outras pessoas sobem e nunca falam.
Essas pessoas silenciosas com histórias curiosas que nunca vivi ou ouvi. Quando você está indo em direção a parada final fica imaginando algumas coisas. Tem momentos em que o ônibus para na rodoviária de uma cidade aleatória para um desembarque e em um lapso alguns pensamentos tomam conta de você: Eu poderia descer aqui, você pensa. Poderia descer aqui e viver uma nova vida. Poderia descer aqui e deixar meus problemas para trás. Eu poderia descer aqui e trabalhar em um lugar pequeno e alugar um apê. Poderia ligar para os meus pais e dizer que decidi não voltar mais, mas que eles poderiam me visitar porque eu sentiria saudades.
Mas por algum motivo você não desce. A parada final, você pensa. É o que te move. O destino, a meta, sem a parada final a viagem não teria sentido. Sem metas você vive em um limbo existencial.
E algumas coisas são como andar de ônibus. Às vezes as pessoas não estão viajando para o mesmo destino que você e elas vão descer antes ou depois. Pessoas novas vão subir, algumas delas vão te marcar. Em alguns momentos da viagem você vai estar sozinho e tudo bem estar sozinho, às vezes isso torna viagem mais gostosa. Mas, velho, viaja. Conhece. Explora. Seja um vagabundo e vague em abundância. Você não vai se mover se criar raízes, mas é bom lembrar que veio de uma floresta.
Algumas coisas são como andar de ônibus.
Pessoas descem.
Pessoas sobem.
Às vezes você vai estar sozinho.
Um dia você chega.
E ai? Aproveita, recebe socos e aguenta. Vai ser...Extraordinário.
O mais difícil que entrar no ônibus é ver seu mais íntimo, novo, pra sempre amigo entrar...😅
ResponderExcluirE o mais feliz disso, é que sabemos o caminho de volta.