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Desculpa o vazio. Primeira história.


 Me desculpem pelo vazio. Sei que o blog anda parado, mas eu andei mais ainda. As coisas que coloco aqui são o que quero compartilhar, e as coisas que tenho vivido não cabem ainda em textos e crônicas. Mas o vazio é gostoso, deixa saudade. Espero ter deixado saudade. As coisas que escrevo aqui sempre são convites para uma conversa. Sabe? Aquela conversa. Aquela conversa no meio do rolê quando você decide ter um tema mais pesado ou sente que aquilo que você guardou precisa sair? E você, sabe, quer falar aquilo com alguém. Então tem aquele desconhecido sentado no chão com os cabelos bagunçados e você pensa: Ok, esse cara vai saber ter essa conversa. 

 Prazer, sou o desconhecido. 

 Esses dias eu perdi alguém, um tio meu. E isso me fez pensar o quanto eu não conhecia dele, e o quanto eu não conheço das pessoas que para mim são tão naturais quanto o respirar. Você já parou e olhou ao redor? Foi o que fiz. Decidi que eu iria ouvir sete histórias, sete histórias de pessoas que para mim eram o comum. Bom, essa é a primeira história. 

 Minha mãe estava sentada no sofá. Cheguei e pedi para ela abaixar o som da TV e desliguei o ventilador. Ela me olhou com a cara retraída.

- É uma conversa séria? - Perguntou.

Sorri.

- Eu quero que a senhora me conte uma história - disse - uma história de amor que a senhora viveu e nunca me contou.

Ela abriu o rosto em um sorriso. 

- Essa é fácil! O amor da minha vida. Nos meus dezessete anos, Victor, eu era uma hipponga. Era do daime, fumava maconha e andava do jeito que queria por ai. Era amiga do maior traficante da cidade, acredita? E naquela época vindo de outro estado tinha aqui aqueles que chamavam de Cães. Eram dois policiais que metiam medo em toda a cidade, eles eram um Capitão Nascimento na vida real. Acredita que eu acabei namorando um deles? Eu, a melhor amiga do maior traficante da cidade!

 Mas a história toda eu não vou contar, meus leitores. Essa história é minha, foi contada para mim e eu quero guardar por enquanto. Minha mãe conheceu o amor da vida dele com as costas sangrando, e ele de sunga lavando um carro. Eu conheci o meu grande amor (até agora) dentro de um ônibus, e tinha riffs de guitarra ao fundo. E eu vou amar de novo, sabe? Você também vai.

Eu vou ter outro amor.
Você vai.
Ela vai.
E vamos sofrer de novo, e vamos sorrir.

 A coisa engraçada sobre a vida é que achamos que existe uma diferença entre viver e sobreviver. Não existe isso de vida fácil, não existe isso de vida em plenitude de felicidade. Existem instantes, e existe esforço. A nossa natureza é o devir, a constante mudança e morte. O mundo se renova, e a gente luta, resiste. Sobrevive. Nós sobre o viver. E isso é lindo. Viver requer esforço, e tem aquele gostinho de trabalho suado. Amor com gostinho de trabalho suado, há!

É isso, meus amores! Isso foi o que aconteceu no meu vazio! Um beijo. Está e vai ser extraordinário.

P.S: To pensando em organizar um rolê com as pessoas que leem o blog e pá, mas é para vocês se pronunciarem. 


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