Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de fevereiro, 2017

Cartas para Gui: Pés descalços.

  Oi Gui , eu sou o casamento da sua irmã, você não vai entender, mas ela vai te explicar depois, ou eu escrevo aqui sobre. Você é um recém-nascido e confesso que fiquei curioso sobre o tipo de criança que você vai ser. Hoje eu estava fotografando enquanto caminhava e tirei uma foto de dois meninos jogando futebol com uma garrafa PET, embaixo deles, na praça, uma menina se enfeitava como uma princesa. Ela estava de maquiagem e roupinha de bailarina. Me toquei que existem tipos  de criança.   Tem essas que gostam de usar pulseiras e se adornar (acho que tem alguma coisa a ver com identidade) e tem outras que só saem de casa, sabe? De cueca, calcinha. Sem nada para quê vestir. Lembro que tinha uma menina no meu bairro que sempre saia só de calcinha, foi realmente conflituoso para mim criança entender o porquê em um ponto da vida ele passou a usar roupas.   Olha, Gui, tudo bem se você for do tipo das cuecas. Quer se exibir pro mundo, vai que tem alguma coisa a ver com auto acei

Dúvida de beliche.

 Eduardo sabia que seu irmão já devia estar dormindo. Eduardo tinha quatorze anos e não tinha hora para dormir, o que ele considerava um grande passo de independência e do que o irmão menor chamava de "ser gente grande". Mas ele conseguia ouvir. Conseguia ouvir o irmão na parte inferior do beliche se remexendo, incomodado com alguma coisa. Eduardo colocou a cabeça para fora do colchão e encarou o irmão, os dois se olharam. - O que foi? O menor ficou calado. - O que foi?  Seu irmão abaixou a cabeça. tímido.  - Eu não sei o que é sexo - disse o irmão - e mexeram comigo por causa disso.  - Mexeram com você? - É, os meninos da sala. - Você não é obrigado a saber o que é isso. Silêncio. - Você sabe o que é? - Sei sim. O irmão menor fez bico, com raiva. - A gente é criança e não sabe de nada! - gritou - É muito chato não saber!  - Ei guri, tá tudo bem... - Não tá não.  Eduardo desceu a escada do beliche e sentou do

Não sei.

 Às vezes nós não sabemos das coisas, e isso é um sentimento desesperador ou incrível. A completa falta de conhecimento sobre o futuro, sobre uma situação. Você tem de lidar o melhor possível com o nada, claro, você tem todo o direito de fugir dele por quanto tempo quiser. Mas ele está ali, sabe; o nada, a falta de conhecimento, o não sei.   Não sei se quero passar mais um dia. Não sei se quero ir. Não sei se sou ruim. Não sei se sou uma soma das experiências que tive, se for, os fatores da equação não são tão bons assim. Não sei se quero continuar ajudando, ou sendo. Amo meus amigos, meus parentes, me prendo a isso. Mas às vezes não sei se quero parar e ajudar.  Me falaram que consigo encontrar um abraço na hora certa e entregar ele, não sei se posso pedir isso de alguém. Não sei se quando estou triste tenho que abdicar disso para ajudar outras pessoas que estão tristes também. Não sei se gosto de ser distante para se aconselhar. Não sei se é bonito a maioria das coisas boa

Abud, dossiê, ser.

 Eu não vi o ano passar para você. De verdade. Estava planejando escrever esse texto há um tempo e te mandar assim que o dia 17 surgisse em fevereiro, mas não vi passar. Não sei o que aconteceu, mas o ano mudou, você cresceu, e eu não vi. Por isso me ofereço para te acompanhar a partir de hoje. E começando por esse texto.   Giovane é o meu melhor amigo há alguns anos, hoje, dia 17, ele faz vinte anos. Vinte anos, mas na cabeça dele e de algum teste do facebook que diz a sua idade mental ele tem algo entre quarenta e cinquenta. Vocês tem que entender isso, de verdade, o Giovane tem cinquenta anos, ou pelo menos a impressão de alguém de vinte anos sobre o que é ter cinquenta. Fico curioso sobre o que vai acontecer quando ele envelhecer, acho que vai ser algo tipo Bejamin Button, ou talvez ele seja só um cara velho com uma mente super mais velha do que a idade velha dele, entendem? Giovane está um pouco à frente do seu corpo, e o corpo dele tenta alcançar. Existe um caos ali dentro

Sala de espera.

 O garoto olhou para a menina mais uma vez. Ela sabia que estava sendo observada, torceu o nariz para o menino. - Você não pode falar comigo. - Por quê? - Porque - disse Janeiro - eu não sei o porquê, não parece certo, né? Acho que você não pode falar comigo. O garoto sorriu, triste. - Faz tempo que fui atendido, eu só estava esperando para te conhecer. - Sério? - Uhum.  Janeiro sorriu, desorientada. - Por quê? - Queria te conhecer, sabe. Você vem depois de mim, queria saber quem ia me substituir. - Ah sim. - Você vai gostar, é legal. Às vezes acontecem algumas coisas ruins, mas é só saber contornar. - Entendi. - Boa sorte. - Obrigada - respondeu Dezembro.  2017 abriu a porta. Estava de jaleco e usava óculos, Janeiro achou o homem engraçado. 2017 sorriu para ela e ajeitou a gravata. - Janeiro, pode entrar. - Ok.  A garota se virou para o menino. - Ei, obrigada pelo conselho. - De nada - disse Dezembro - feliz ano novo. - Feliz ano novo.  Janeiro passou

Cierra.

 Eu conheci Cierra no meu segundo dia na Bolívia. Tínhamos ido gravar um documentário e estávamos a procura do hotel mais barato o possível. No fim do primeiro dia encontramos uma hospedaria que cobrava quarenta reais a diária, com quartos de solteiro simples, cama de casal; um guarda-roupa modesto, TV de tubo e um ventilador. Meu amigo disse que era o bastante para sobreviver. Eu fui o único a ficar no segundo andar, e foi por isso que conheci Cierra.   Cierra dormia no quarto ao lado do meu, mas ela gostava de ficar sentada no corredor. Era da Argentina, porém adorava francês e o poeta favorito era um brasileiro, Augusto dos Anjos. Eu tinha dezesseis e Cierra vinte e sete. Ela veio falar comigo ao me ver tentar fotografar a cidade a partir da sacada.  - Você é fotografo.  Sorri. - Oi, to começando, sim. Sou sim.  - Me tira uma foto,   Cierra não falava bem português, mas todos os dias me pedia uma foto. Era uma mulher linda, mais velha e com o rosto marcado

Minha irmã é que nem tatuagem.

 É estranho ser um irmão menor. Nos filmes a gente costuma ver o lado do irmão maior e sobre como o irmão menor é um porre, ou inexperiente. Na minha sala da escola todo mundo era o irmão maior, mas eu não, sempre fui o caçula. E ser o caçula é uma experiência no minimo interessante.   Minha irmã é o meu oposto; cinco anos mais velha, meu nome veio do dela, Victória. Se eu fosse um giz de cera ela seria uma caneta bic. Eu estudava, ela ia pra balada; ela era sociável e eu tinha três amigos. Minha irmã me viu crescer, e deve ter sido um processo engraçado ou curioso. Eu era uma criança calada, que internalizava as coisas. Quando criança nós nos mudamos para um bairro longe da cidade e tudo era complicado.   A nossa mãe era professora e fazia faculdade de psicologia, passava o dia fora, meus pais eram separados e nós dois costumávamos viver sozinhos. Dividíamos as tarefas da casa, e minha irmã tinhas as rédeas. Passava o rodo, varria, e fazia todos os trabalhos importantes que

Luz, contando histórias.

 Faz poucos meses que comecei a fotografar, mas isso já faz parte da minha vida há muito tempo. Sou um contador de histórias e fui assim que comecei na fotografia. Meu pai me deu um celular e com o celular eu fazia stop motions dos meus bonecos, contando histórias, criando elas. Depois minha vó me deu uma câmera point and shoot  super barata que eu levava para a escola e tirava fotos das pessoas mais aleatórias. Quando fiz treze anos ganhei uma câmera mais profissional, mas que logo ela se foi. Então ganhei minha câmera atual, uma Canon, DSLR.   No começo não tinha a miníma ideia do que fazer com ela, passei um ano deixando ela no meu quarto, sem fazer nada. Então o Edison começou a me ensinar o básico, me mandando áudios longos no whatsapp explicando conceitos como ISO, profundidade de campo e coisas do tipo. Fui explorando a câmera. No meio de tudo isso surgiu a viagem para gravar o Fronteiras. Sem que eu percebesse estava em um carro com o Edison, minha melhor amiga e o Ediso

(Re) Começar.

 Hoje eu vi a Vic, e vocês vão entender o porquê disso ser importante. Primeiro queria avisar que ela me permitiu escrever tudo isso, achamos que seria interessante compartilhar a história.  Um tempo atrás ( bota tempo nisso)  na biblioteca pública na parte de quadrinhos três pessoas conversavam entre si. E por algum motivo puxei conversa com as três. Naquele dia conheci Edison, Dannie e claro... Victoria. Muitas coisas aconteceram, mas eu e a Victoria viramos grandes amigos. Ela foi minha primeira grande amizade. Conversávamos sobre tudo, ela tentou me ensinar a dançar e era uma pessoa incrível. Naquele tempo eu não tinha barba, e tudo era diferente. Victoria era uma espécie de sub-celebridade. Cantava em uma banda, dançava dança do ventre e fazia de tudo melodia. No começo eu era apaixonado pela Vic. Pedi ela em namoro no primeiro minuto de um ano novo, ela estava chorando quando liguei para ela, não deu muito certo. Mas nós nos tornamos melhores amigos. Especificamente no dia

Argonautas e as possibilidades.

- Nós precisamos de um nome.  Pisquei. Estava em outro mundo. Olhei para frente e vi o Edison me encarar. Edison é um grande amigo meu, me ensinou praticamente tudo que sei sobre fotografia e abri uma produtora com ele. Nós tínhamos acabado de voltar da Bolívia para gravar um documentário e precisávamos de um nome para a nossa produtora recém- criada. Olhei para ele. - O quê? - Nós precisamos de um nome, Victor. Que tal Pé na estrada? - Não, muito estranho. Ele sorriu. - E o que você sugere?  O que nós eramos? Meus amigos me conhecem. Existem alguns momentos onde eu vou longe, posso estar na sua frente, mas minha cabeça está navegando por outros lugares. Fico imerso em mim mesmo. O som fica abafado, o tempo desacelera. O que nós eramos? Lembrei de um dos momentos que me definiu. Um dos momentos da minha vida em que a partir dali fui outra pessoa. E essa pessoa, bom, oi.   Era 2014 e eu tinha acabado de sair da casa de uma amiga minha. Era tarde e fui anda

Is(adora) tudo.

     Não sei como é ser um irmão mais velho, mas acredito que é bem próximo do que tenho com a Isadora. Ao mesmo tempo pode ser algo bem distante disso, e novo, mas que eu amo. Isadora é minha prima mais nova e a pessoa que tenho orgulho em chamar de  família. Família para mim não é só sangue, é algo mais, que envolve alma. Isadora é pré-adolescente e é super linda minha relação com ela. Eu não lembro exatamente como surgiu, mas vou tentar falar sobre enquanto este texto está indo.  Primeiro queria falar que é muito estranho ver alguém crescer, e eu vejo a Isadora fazer isso, e é desesperador e lindo. Isadora tem treze anos, vários crushs, e adora contar histórias para mim detalhando cada olhar de flerte que trocou com algum garoto que talvez ela nunca vá falar. Isadora quando criança era distante de mim. Eu não sou tão enturmado com minha família, ficava mais no canto. Mas todo natal contava uma história para Isadora, ano passado escrevi uma. Com o tempo a Isadora foi passand

Aquele cara.

 Ok, tem aquele cara. Aquele cara babaca que usa garotas. Aquele cara babaca que é tóxico. Aquele cara que nunca mais vai te dizer um "oi" depois daquele beijo. Aquele cara que todas as declarações foram vazias. Aquele cara que todos os olhares não tinham significado. Aquele cara que apareceu, existiu e depois foi embora. Aquele cara que te trai. Aquele cara que mesmo que você não tenha feito nada ele vai te fazer dormir se sentindo culpada. Aquele cara que vai te fazer se sentir insuficiente e talvez não segura de si. Aquele cara que vai te fazer promessas que na verdade são só frases. Aquele cara que vai te dizer: Não é você, sou eu (acredite, é ele). Aquele cara que vai te deixar insegura em relacionamentos depois que ele se for. Aquele cara que acha que o mundo gira ao redor do pau dele. Aquele cara que você vai sentir falta, mas foi bom ele ter ido. E essa é a questão, aquele cara, sabe, ele? Ele já foi.  Prazer, sou o outro cara. Como vai? 

Calor de inverno.

 Estava calor, porra, ele sabia que estava calor. Estava calor daquele jeito desde que ele tinha saído do trabalho. Mas porra, aquilo sim era calor. Ele estava atravessando a ponte, suando. Porra. Ele precisava respirar. O ar estava quente. Devia ser os malditos imigrantes. Caralho, pensou, só podem ser os imigrantes. Ele tinha lido uma vez um artigo que falava que o número de pessoas em um lugar aumenta o calor. E agora a cidade estava cheia deles, cheia desses ciganos. Eles que se fodam. Ele tinha recusado a dar dinheiro para um deles quando saiu do trabalho, o cigano murmurou algo e Fábio continuou o caminho. Alimentar vagabundo, isso é coisa para trouxa. Mas meu Deus, estava calor. Ele estava com saudades do ar condicionado do trabalho. Sentia o suor escorrer pelo corpo. Uma gota deslizou pela sua testa e pingou na retina, ardendo. O ar estava quente. Porra. Ele podia sentir o sangue ferver. Parecia que estava derretendo. Ele tinha que ficar parado, respirar. Se controlar. Parou

Tina

 No momento estou triste, vou ser sincero, estou mesmo. Não tenho de ser perfeito aqui, não tenho, né? Mas hoje estive feliz, e queria falar sobre isso. Porque isso me alegra. Mas outra coisa, aqui só tem textos. Para quem não sabe escrevo contos e outras coisas, o que vocês acham de eu começar a postar isso aqui também? Mostrar um pouco mais. Enfim, respondam, interajam comigo. Me deem um retorno. Quero saber quem está lendo e se estão gostando, e compartilhem, please. Aliás, vou deixar o meu e-mail no final desse post. Para quem quiser conversar ou marcar um café. Enfim, isso foi só um aviso.  Essa história é sobre a Tina.  Hoje sai da casa de uma amiga minha e fui para a parada do Manoel Julião esperar o ônibus. No fone de ouvido tocava em um volume altíssimo o Awesome mix de Guardiões da Galáxia. E poxa, se tem uma coisa que me motiva é música dos anos oitenta ou setenta. Vi o céu cinzento e o vento bateu no rosto. Você vai andando para casa, pensei. É longe , respondeu

Nanne, nossa, minha.

  Mais uma mulher, me desculpe, mas minha vida é cheio dessas coisas preciosas. Dessa vez é a Nanne. Nanne que tem um nome super maneiro. Nanne que foi super difícil de conquistar uma amizade. Nanne que já foi crush e não sabia até ler esse texto (olá). Decidi escrever sobre a Nanne porque às vezes emerge na minha cabeça algumas histórias que eu vivi com ela. E poxa, eu amo cada uma delas.   Tenho um caderninho, meus amigos sabem disso, onde peço para eles anotarem coisas para que eu leia depois. Nanne foi a primeira pessoa que escreveu. Para quem não conhece, Eunacy Lebre é uma mulher linda e baixinha, com seus cabelos ruivos (hoje, às vezes ela pinta), impulsiva e maravilhosa em todos os detalhes. Adoro as bochechas dela e o humor.  Nanne é um trabalho em andamento, vocês precisam entender isso. Para quem não se esforçar pode parecer uma experiência ruim, mas eu garanto que vale a pena. Minha amizade com a Nanne surgiu em um grupo de fãs de Doctor who, e eu tinha um super

Revoada.

 Sentei na primeira cadeira alta que vi ao subir no ônibus. Existe essa competição imaginária sobre quem vai sentar na cadeira alta; acredito que é questão de perspectiva. As pessoas querem ter a melhor visão do lugar. E para um escritor é bom ter a melhor visão do lugar, visualizar os personagens. Miguel sentou do meu lado.  - Eu conheci minha namorada em um ônibus - disse - indo pro universitário.  Ele sorriu. - Essa história você nunca me contou. - Ela não me conheceu em um ônibus. Mas eu conheci ela. Ela era a garota do ônibus , aquelas paixonites rápidas que você nunca vai conseguir ter nada. De longe eu acompanhei a mudança dela. Mas nunca tomei coragem para falar. Ficava vendo ela de vestido, toda linda, morena.  - E quando isso mudou? - Anos depois encontrei ela no twitter. Quis ser ousado, sabe, chocar. Mandei uma música do Vitor Ramil sem nem dizer um oi antes. Ela adorou a música e começamos a conversar do nada. Nunca teve um início, sabe. Ela se a

DOCE MELL

  Sabe, essa é uma história é bem recente. Tão recente que está viva na memória, e parece fantasia. Senti que deveria contar. Algumas linhas filosóficas acreditam que a arte toca o artista quando sente necessidade de surgir no mundo. Então, vamos lá, ok? Como uma conversa, como sempre.   Era o aniversário de um amigo meu, Antônio, vocalista da banda Astronauta imaginário, e estando tarde pedi para ele me acompanhar até a parada de ônibus. No caminho fomos conversando sobre fracassos amorosos e coisas que nos tocaram com o tempo. Paramos e sentamos na parada. - Eu tenho uma amiga que mora aqui perto - observou Antônio - eu devia ir ver ela.   Alguns amigos meus falam que sou caos, que existo em uma corrente sem fluxo determinação. E acreditem, às vezes sou impulsivo. A gente flui. Surfa. Sorri. - Aqui perto? - Uhum. - A gente podia ir lá. Antônio olhou para mim, confuso. - Sério? - Sério. - Você não conhece ela. Sorri. - Exatamente.  Deixam