(Re) Começar.

 Hoje eu vi a Vic, e vocês vão entender o porquê disso ser importante. Primeiro queria avisar que ela me permitiu escrever tudo isso, achamos que seria interessante compartilhar a história.

 Um tempo atrás (bota tempo nisso) na biblioteca pública na parte de quadrinhos três pessoas conversavam entre si. E por algum motivo puxei conversa com as três. Naquele dia conheci Edison, Dannie e claro... Victoria. Muitas coisas aconteceram, mas eu e a Victoria viramos grandes amigos. Ela foi minha primeira grande amizade. Conversávamos sobre tudo, ela tentou me ensinar a dançar e era uma pessoa incrível. Naquele tempo eu não tinha barba, e tudo era diferente. Victoria era uma espécie de sub-celebridade. Cantava em uma banda, dançava dança do ventre e fazia de tudo melodia. No começo eu era apaixonado pela Vic. Pedi ela em namoro no primeiro minuto de um ano novo, ela estava chorando quando liguei para ela, não deu muito certo. Mas nós nos tornamos melhores amigos. Especificamente no dia 29 de outubro (passamos a comemorar esse dia nos outros anos). Vic me apresentou a minha primeira namorada, depois me consolou quando tudo acabou. E eu consolei ela de outros relacionamentos ruins que teve. Nós vivemos um número grande de histórias juntos. Ela me apresentou pessoas e eu apresentei outras para ela, ela cantava e eu escrevia. 

 A primeira vez que vi a Vic cantar foi no Tentamen, ela cantou Here comes the sun do Beatles. E foi incrível. A Vic vinha na minha casa alguns dias, em outros eu ia na casa dela. Ela mora em uma mansão, chamava de Terra do nunca e tinha irmãos engraçados e loiros. Às vezes eu ia no colégio dela esperar ela sair para conversarmos alguns minutos. Então um dia ela sumiu. Só sumiu. Não deu um aviso, apenas sumiu. 

 E ela virou um conceito. As pessoas falavam sobre ela para mim, contavam lembranças, raiva. Mas era a Vic, e ela tinha sumido. Ido morar em outro lugar. Passei um tempo tentando ter raiva dela, mas não consegui. Só queria de alguma forma saber se ela estava bem. Mas depois ela foi cicatrizando. Virou um conceito. Demorei bastante tempo para confiar nas minhas amizades, mas aprendi com isso. Às vezes as pessoas só vão embora. 

 Então hoje, mais de dois anos depois do sumiço recebo uma mensagem da mãe dela. A Vic quer falar com você. Tremi. Suei. Mas dei o meu número. E ela veio falar comigo no whatsapp. Pediu desculpas, pediu perdão. Fiquei com um pé atrás (justo), mas me prontifiquei a ir na casa dela. Porque era a Vic.

 Chegando lá nos abraçamos e o abraço demorou um tempo. Ficamos sentados distantes um do outro. 

- Me atualiza - ela falou - me conta o que aconteceu. 

 Então percebi que aquela não era a minha Vic. Aquela Vic não tinha me acompanhado. Não tinha me visto escrever um livro, não tinha me visto fazer um documentário, não tinha me visto evoluir, não tinha me visto chorar, aquela Vic era outra. E eu adorei. As pessoas mudam, sabe, elas mudam. Nunca entramos no mesmo rio duas vezes, não é? E a Vic mudou, e eu mudei. Mas nossas mudanças se abraçaram. No começo da tarde estávamos sentados em sofás diferentes, ao anoitecer estávamos abraçados.  

 Conversamos sobre tudo. Sobre o sumiço, sobre o passado. E acreditem, ainda vamos conversas muito. As pessoas fazem merda, sabe, ela fez, mas merece um voto de esperança. As pessoas merecem. Porque elas mudam. Não é o mesmo parâmetro. Posso quebrar minha cara de novo, mas ela merece, todos merecem um voto de fé. 

 Em uma tarde já planejamos viagens, tattos, um canal no youtube e um blog. E vai haver outras tardes. Um fim só serve para marcar um começo, e estava na hora de (re)começar. 

 Queria terminar esse texto de uma forma diferente. Falei para a Vic que ia escrever e perguntei se ela queria falar alguma coisa, sobre a gente, sobre nós. Algo para eu postar aqui. Eis o que ela falou:

"Eu só agradeço por você não desistir fácil de mim. Por entender que eu me perdi e por estar aqui para me ajudar a encontrar o caminho. Eu me machuquei e te machuquei, machuquei todos ao meu redor e eu nem sei explicar como. Aqueles anos são um borrão alcoolizado e dopado. Mas é bom saber que o presente e o futuro serão nítidos e (quase) sóbrios. Sua confiança em mim e seu gostar sincero me dão esperança.  Obrigada. Você é a definição personificada da palavra irmão."

Essa é a Vic. Crua, nítida. Pelo menos a nova Vic, que conheci hoje. E este sou eu, o Victor, prazer,  Nunca fui um ótimo guia, mas o caminho está ai, não é? Vamos caminhar. Recomeçar. 

Nova Victoria

Versão antiga.

Versão atual.