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Abud, dossiê, ser.


 Eu não vi o ano passar para você. De verdade. Estava planejando escrever esse texto há um tempo e te mandar assim que o dia 17 surgisse em fevereiro, mas não vi passar. Não sei o que aconteceu, mas o ano mudou, você cresceu, e eu não vi. Por isso me ofereço para te acompanhar a partir de hoje. E começando por esse texto. 

 Giovane é o meu melhor amigo há alguns anos, hoje, dia 17, ele faz vinte anos. Vinte anos, mas na cabeça dele e de algum teste do facebook que diz a sua idade mental ele tem algo entre quarenta e cinquenta. Vocês tem que entender isso, de verdade, o Giovane tem cinquenta anos, ou pelo menos a impressão de alguém de vinte anos sobre o que é ter cinquenta. Fico curioso sobre o que vai acontecer quando ele envelhecer, acho que vai ser algo tipo Bejamin Button, ou talvez ele seja só um cara velho com uma mente super mais velha do que a idade velha dele, entendem? Giovane está um pouco à frente do seu corpo, e o corpo dele tenta alcançar. Existe um caos ali dentro mantido com muita ordem. 

 Giovane também é um aglomerado de páginas do Pensador UOL, acreditem. Ele sempre vai ter uma frase para citar de acordo com a situação.

Isso é interessante, o que Marx falou sobre isso...
Sim, inclusive, Machado de Assis fala em...
Uma vez eu li um texto que dizia...
(sei que tu vai citar esse texto um dia)

 E é bem interessante isso. Interessante porque você que vai se esforçar para ser amigo dele vai acabar encontrando o Giovane no meio de tudo isso. Entre todas as citações e alma de velho vai ter uma coisa que ele disse e somente ele. Quem conhece o Giovane de verdade sabe ler as entrelinhas nas palavras. 

 Ah sim! Agora, o ponto interessante! Lembram quando falei que minha irmã era o meu oposto? Ele também! Só que olha o que é surpreendente, ele é um oposto diferente. Eu sou caos, Giovane é ordem. Sério, vocês precisam ver o nível de organização dele. Giovane estudava horas para passar no ENEM, eu fiz a prova sem estudar e melado de chocolate. Mas nós somos uma balança. Na diferença nos encontramos. Nossas conversas duram horas, e o que é mais interessante, aprendemos! Aprendemos um com o outro. Com ele aprendi sobre Los hermanos, Mapinguari Blues, Marx e comigo ele aprende, bom, o que eu sei. Às vezes ele me pergunta coisas como:

Por que o Homem-Aranha tá assim nessa HQ?
Me explica isso em Star Wars?
Não entendi esse roteiro.
O que você acha sobre essa menina?

 Agora, meninas, se preparem. Continuando a parte do oposto: Giovane Abud não sabe flertar. De verdade. Flerto até com uma árvore, mas esse garoto se gostar de você vai encarar o chão e tentar falar algo saído de uma página do Dom Casmurro ou coisa do tipo. Mas o Giovane é uma linha de trem, vocês vão entender, garotas. Ele não é o trem em si, ele não é o que vai te levar em uma viagem louca para novos mundos. O Giovane está ali para sustentar a viagem, para manter ela, para guiar, para ser trilho e te dizer os caminhos em alguns pontos. Ele pode parecer distante alguma hora, mas é só o jeitinho dele, sério. Perdoa. Vai ser o máximo.

 Giovane também gosta de ficar sozinho. E nisso nós nos damos bem, porque também gosto. Quando viajei para ver ele nós ficávamos hora calados no mesmo recinto. Você não precisa de palavras para amar alguém, sabe. Abud às vezes quer só ficar na dele, calado, porque ele é um observador. Toda vez que vejo uma coisa curiosa acho que o Giovane está bem distante dali observando aquilo com um binóculos. Ele gosta disso. Observar, aprender. Giovane é o meu irmão de outra mãe. Tem horas que acordo e ele está aqui em casa. 

 Giovane tem algumas cicatrizes, e vocês vão precisar de um tempo para que ele as mostre. Não exijam dele o que ele não pode dar, sério. Tem que entender a pessoa como ela é, e Giovane Abud precisa de um tempo. Aliás. Faz bastante tempo que conheço ele, essa semana fizemos nossa tatuagem juntos. Giovane também tá na pele. Todos os meus irmãos na minha pele. 

 Não sei direito o que o Giovane aprendeu comigo, quando ele era outro Giovane, e eu era outro Victor. Quando conheci o Giovane ele parecia intocável; como um militar, sério, postura rígida. E sabe, sou o tipo de pessoa que independente do sexo vou correr até você e te dar um abraço. E hoje o Giovane às vezes me abraça sem eu ter de abraçar antes, acho isso bem macho. Tem horas que tenho que falar:

Não quero apertar tua mão, quero um abraço. 

 E ele abraça. Eu era sarcástico (mais que agora, sei que ainda sou), e tinha uma enorme falta de fé no mundo. Achava que ia morrer sozinho (hoje só tenho dúvidas) e acreditava que a maioria das experiências não valiam a pena. Mas as coisas mudam, de uma sala de biblioteca de uma escola para o mundo. Eu e Giovane temos esse medo em comum, achamos que vamos morrer sozinhos. Um dia desses enquanto estávamos caminhando disse para ele:

- Sabe, se você ficar velho e sozinho eu te coloco na minha casa e a gente mora juntos. 

 E bom, é isso. Essa é minha solução. Consigo imaginar nós dois velhos, ele vindo com um aperto de mão e eu um abraço. Ele com um "olha aquela garota" e eu indo falar com a garota. Tenho algumas certezas na vida, uma delas é o Abud. Sei que velho (e com uma mente mais velha que a idade ele), sem barba, e feliz, sei que esse velho vai me surpreender, todos os dias. 

 Então, um salve! Aos irmãos. Vou dedicar de um jeito que só o Abud vai entender. O texto tá acabando gente, desculpa se não dei ideia de conclusão. Tem horas que não quero que as coisas acabem. Enfim, tchau, qualquer coisa tô por aqui, ok? Abud, te amo.

                                                                       - Velho corvo.


P.S: Giovane gosta bastante de Los hermanos.



Nózis.

Victor e Abud, versão de teste.

Eu, Abud e o cara mais gato de Rondônia.




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