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DOCE MELL


  Sabe, essa é uma história é bem recente. Tão recente que está viva na memória, e parece fantasia. Senti que deveria contar. Algumas linhas filosóficas acreditam que a arte toca o artista quando sente necessidade de surgir no mundo. Então, vamos lá, ok? Como uma conversa, como sempre. 

 Era o aniversário de um amigo meu, Antônio, vocalista da banda Astronauta imaginário, e estando tarde pedi para ele me acompanhar até a parada de ônibus. No caminho fomos conversando sobre fracassos amorosos e coisas que nos tocaram com o tempo. Paramos e sentamos na parada.

- Eu tenho uma amiga que mora aqui perto - observou Antônio - eu devia ir ver ela. 

 Alguns amigos meus falam que sou caos, que existo em uma corrente sem fluxo determinação. E acreditem, às vezes sou impulsivo. A gente flui. Surfa. Sorri.

- Aqui perto?
- Uhum.
- A gente podia ir lá.

Antônio olhou para mim, confuso.

- Sério?
- Sério.
- Você não conhece ela.

Sorri.

- Exatamente.

 Deixamos dois ônibus passarem e nos encaminhamos na direção da casa da senhorita misteriosa. Nesse ponto eu já estava imaginando quem ela era. Sou muito platônico, acreditem, antes de conhecer alguém acredito que ela é só um conceito. Eu estava indo entrar em contato com a forma concreta desse conceito. Entramos em uma rua horizontal próximo ao supermercado e batemos em uma casa de grade branca. Antônio pulou e segurou as grades como se de alguma forma fosse um prisioneiro naquele lugar atrás de um copo d'água.

- Mell! - gritou - Mell!
- Mell! - gritei - Mell! 

 Uma senhora apareceu. Sorriu para Antônio, conhecia ele. Passou os olhos rapidamente por mim e abriu o portão. Entramos na casa. Sou meio tímido em ambientes novos, então me encolhi no canto da sala e ali fiquei. Antônio se sentou na sala encostando os joelhos, ansioso. Parecia um cachorro, achei aquilo engraçado. Então ela chegou. Sabe quando você vê uma mulher? Não uma menina, uma mulher. Foi exatamente assim. Cabelos cacheados, covinhas, e um sorriso. Os dois se abraçaram, ela olhou para mim.

- Oi guria.
- Oi, Victor, né?
- Aham.

 Meia hora depois nós três estávamos na casa de outra amiga nossa. Mell tinha pegado o carro e nos levado até lá. Nanne nos ofereceu bolo e voltamos a conversar sobre amor. Confesso que quando o tema é esse monopolizo a conversa, são tantas teorias, sabe? E a Mell também tinha várias. Ela fotografava assim como eu! Sabe, fluiu naturalmente. Ela resolveu me deixar em casa. Estacionou, me preparei para sair. Voltei meu corpo para dentro do carro. 

- Antônio, eu te amo. Nanne, eu te amo - disse, olhei para Mell e sorri -  Mell, um dia eu vou te amar. 

 Ela sorriu. Sabe, eu estava certo.

 Dias depois estávamos fotografando juntos, abrindo um projeto. Mell, que é a outra pessoa além de mim que ouve Highjack (escrevi isso ouvindo So long, mozi); Mell, que chora em cima de mim; Mell, que eu já amo. 

 Até hoje enquanto estamos fotografando juntos alguma garota, durante os intervalos de cada foto eu viro a câmera para a Mell e tiro algumas fotos dela. O fotografo entrega para a eternidade apenas um momento da existência. E as vezes sinto que o melhor que posso entregar é a Mell. E guria, eu te amo. Te entrego para a eternidade.  

Mell fotografando Blue.

Doce Mell.

Flores. Um dos cliques rápidos.

Mell e as bolhas.

Comentários

  1. Que coisa linda, guri! Paixão é o que define o momento. Por você e pela doce Mell. Te agradeço pela arte (a fotografia, a escrita e a Mell)

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  2. Mell é incrivel a primeira vez que eu a vi me apaixonei, provavelmente ela nem recorde disso. Mas você faz parecer mais incrível ainda. Tu é demais garoto. Sou sua fã!!

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