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O CURIOSO CASO DE UMA FOTOGRAFIA



Oi, para quem está lendo. Nós, escritores, às vezes esquecemos de dizer esses “ois”. Então, oi. Esse é mais um daqueles textos em que nós conversamos, sabe? Em que simplesmente sei que você está ai, e que eu, estou aqui. Sei que essa conversa é estranha, mas acredite, acho o máximo. Essa história é sobre uma fotografia, sobre intimidade, sobre curvas e sobre mulheres.

Então, é sábado, ou pelo menos, era sábado, 45 minutos atrás. Estou completamente repleto de tédio e pensei "ok, vou criar um blog e contar histórias". Coisas boas surgem assim, não é? A praia não espera pela onda quando ela aparece. Hoje, trabalho como escritor e fotografo intimista (iniciante, mas né), e acredite, isso tudo tem um motivo.

Anos atrás em 2013 vi em um filme do Woody Allen o nome Diane Arbus. E sabe, quando eu vejo um filme do Woody Allen gosto de pesquisar as coisas. Uma pequena voz na minha cabeça fala que tenho que entender aquilo para ser inteligente ou algo do tipo. Então encontrei essa mulher. Diane Arbus foi uma fotografa que se especializou em fotografar coisas "estranhas". Campos de nudismo, shows vaudeville, casas de aberrações, o que há de mais estranho mundo. E mesmo assim, era intimo. As fotos da Diane chegaram em mim falando: Hey, olha como eles são estranhos, são? Não, eles são assim, e é bem divertido até, tudo isso é bem lindo. E na minha cabeça sorri. Estava no mundo deles. Sendo estranho com eles.




  Encontrei na internet uma definição para intimidade, compartilho aqui para vocês: "No recesso de seu lar". E bom, é isso, sabe?  Ela via as pessoas como lares e se abrigava nelas por um tempo, captava elas, eternizava elas. Hoje trabalho com fotografia intimista. Na minha frente mulheres vejo mulheres se despindo. E entendo que não é só de roupas. Com o sutiã elas tiram a insegurança, com a blusa os traumas, e em cada curva vejo um lar. Aquela pessoa virou abrigo. Joseph Campbell, um escritor e estudioso de criação literária, disse que heróis são pessoas que fogem da esfera de conhecimento comum. E poxa, gente, essas mulheres são heroínas. 

 Quando conheci Diane escrevi um conto chamado O curioso caso de uma fotografia onde narrava a história de um garoto que tentava manter as mulheres apenas em conceitos, sem conhecer elas. Mantendo aquilo intacto no campo das ideias de Platão, ele, que era viciado nas estranhezas de Diane Arbus. Mas bom, eu mudei. E o título é bom para desperdiçar. 

 Vocês sabem o que é fotografia? É desenhar com luz, meu bem. E estamos fazendo isso, por um momento a pessoa vira uma sombra. Só um conceito dela mesma, pura, em sua essência. Essa é a beleza de um ensaio intimista. Nos ensaios vejo as garotas olhando para o próprio corpo com sorrisos, se aceitando. Notando aquele roxo no canto do joelho, aquela estria que lhe caminha no corpo, e vejo elas falarem isso sou eu, tô aqui, me ame assim. E acreditem, eu amo. Amo ver arte explodindo na pessoa, logo ela, mulher, que abriu seu lar para mim. Que criou luz para que eu escreva com ela. A beleza da fotografia, acredito eu, está na estranheza. No sentimento de rever o que já foi visto com olhos estranhos de turista. Achar aquilo estranho e engraçado, e lembrar que às vezes, pode ser um lar. 


 Para um primeiro post em um blog esse está bem longo, quero colocar aqui a fotografia que me fez pensar tudo isso, apenas mostrar, sabe. Não sei se vou continuar com isso. Mas tenho algumas histórias para contar. E se vocês quiserem ler, aqui estou eu. De um lado do universo ao outro. Escrevendo. 
Foto tirada por mim. Modelo: Iasmin Castro

P.S: Quem quiser conferir meu trabalho com fotografia pode dar uma olhada no link: https://www.flickr.com/photos/151498678@N06/albums


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